quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Os desafios do crescimento imobiliário na zona sul de Jaboatão

 Por Herbert Fernandes

 Imagem: Blog Conjunto Residencial Piedade Life
O setor imobiliário está em alta na zona sul de Jaboatão. Este crescimento não era visto desde a década de 1980, quando muitas construtoras deixaram de empreender no município por falta de investimentos do poder público em infra-estrutura básica.  Hoje, o mercado parece estar querendo recuperar o tempo perdido e dezenas de novos empreendimentos começam a mudar a cara e a rotina da cidade. 

Voltados principalmente para a nova classe média, que impulsionada pelo aquecimento da economia e facilidade de crédito começa a realizar o sonho da casa própria, os conjuntos habitacionais gigantescos hoje compõem grande parte dos investimentos do setor imobiliário em Jaboatão dos Guararapes,  principalmente nos bairros de Piedade e Candeias.  

Esses bairros são os mais valorizados pelas construtoras e por esse novo público, principalmente por estarem localizados em território estratégico,  do chamado "Eixo Vetor do Desenvolvimento". São bairros próximos  da capital Recife e ao mesmo tempo do polo industrial de Suape. Além disso,  já possuem certa infra-estrutura, considerada boa quando comparada a de  outros bairros em municípios vizinhos. 

Outro fator apontado pelos especialistas como atrativo aos bairros de Piedade e Candeias é a disponibilidade de  terrenos para novas construções, principalmente na parte oeste, nas proximidades da Lagoa Olho D'água. Além disso, o acesso à Suape através da Ponte do Paiva (encurtando o caminho em até 10 quimômetros), tem sido bastante valorizado na hora de escolher a zona sul de Jaboatão como local da nova residência.

De acordo com a arquiteta Bárbara Tenório, especialista na área planejamento urbano, não existe mais espaço para novas construções na zona sul de Recife, por exemplo. Ela explica que as pessoas estão migrando para áreas alternativas como Jaboatão - "As pessoas que buscam oportunidades geradas por Suape, ou que já trabalham no polo industrial, estão começando a se instalar em Piedade e Candeias. Esses bairros, além de muito próximos da capital Recife e  de Suape, ainda tem como atrativo a infra-estrutura como shoppings, supermercados, praias, hospitais, etc. Tudo que uma pessoa busca numa cidade grande esses bairros já oferecem"


De acordo com dados divulgados pela Caixa Econômica Federal este ano, o programa de incentivo ao financiamento imobiliário do Governo Federal, o "Minha Casa, Minha Vida", pretende investir R$315, 67 milhões em habitação em Pernambuco. A previsão é construir mais de 44 mil moradias no Estado até o final de 2010.

E Jaboatão pretende abocanhar boa parte dessas moradias e investimentos. Só a construtora Tenda, uma das que mais investem no município, já contabiliza dois conjuntos habitacionais construídos na zona sul. Outros dois também também estão sendo erguidos nos bairros de Piedade e Candeias, com previsão de conclusão até 2012.


Os desafios do saneamento em Jaboatão



Embora o setor imobiliário esteja em crescimento, a falta de infra-estrutura básica, como ruas pavimentadas e coleta e tratamento de esgoto, será o grande desafio de Jaboatão nos próximos anos. Um estudo divulgado este ano pelo Instituto Trata Brasil, colocou o município no 6º lugar do ranking entre as 10 cidades com o pior saneamento do Brasil.


De acordo com a pesquisa, apenas 8% do esgoto de Jaboatão é coletado e tratado. Os dados foram divulgados a partir de informações reunidas do Sistema Nacional de Informação Sobre Saneamento (SNIS), divulgado anualmente pelo Ministério das Cidades. 

A arquiteta Bárbara Tenório, explicou para o nosso blog que esses índices dificultam bastante maiores investimentos imobiliários no município - "Muitas construtoras podem ter projetos recusados pela Caixa Econômica Federal, por exemplo, pois é necessário ter infra-estrutura mínima nos lugares onde serão construídos esses novos empreendimentos" - explica. 

Recentemente, algumas construtoras desistiram de comprar enormes terrenos nas proximidades da Lagoa Olho D'água, justamente pela falta de infra-estrutura básica. E isso significa menos emprego e menos investimentos em Jaboatão.  As construtoras estão optando por terrenos próximos a áreas  já populosas, onde haja, pelo menos, uma rua principal de acesso pavimentada. Como nem sempre é possível fazer o trabalho que seria obrigação da prefeitura, as construtoras pavimentam algumas ruas que dão acesso à suas construções, sem fazer o serviço de drenagem necessário. O resultado da falta de drenagem  serão sentidos no inverno, com a intensificação dos alagamentos, que já assolam a zona sul de Jaboatão. 


Bárbara acredita que o melhor caminho para vencer o obstáculo da falta de infra-estrutura é o diálogo entre construtoras e prefeitura - "O diálogo e a negociação é o melhor caminho. Não adianta a construtora fazer a pavimentação das vias que darão acesso a esses novos conjuntos habitacionais, sem investir na drenagem e no saneamento. Temos que lembrar que esses novos empreendimentos abrigarão milhares de pessoas e, caso não haja o saneamento adequado, para onde a água irá? Por outro lado, fica muito caro para as construtoras bancarem todos os custos. Por isso a prefeitura tem que participar e executar um plano estratégico para a região" - explica.


Outro desafio da drenagem da zona sul de Jaboatão está diretamente ligado ao assoreamento da Lagoa Olho D'água. Hoje a lagoa possui apenas 80cm de profundidade, não tendo capacidade de absolver todo o volume da água durante do inverno. Aliado a falta de infra-estrutura e saneamento, o assoreamento da lagoa também precisa ser enfrentado pelos governantes. Há cerca de 2 anos, existem investimentos que totalizam R$ 59 milhões para a urbanização da Lagoa Olho D'água, mas o governo do Estado ainda não desenvolveu o projeto. A nível municipal, não existe nenhum planejamento estratégico para a região da lagoa até o momento.


O desafio do transporte público e do trânsito


Com a chegada de novos moradores aos bairros de Piedade e Candeias, outras questões já começam a ser discutidas: o trânsito e o transporte público. Só no bairro de Piedade, nas proximidades do  antigo Conjunto Habitacional Dom Hélder (que já é muito populoso) existem mais 3 gigantescos empreendimentos imobiliários sendo construídos com a aprovação da prefeitura, numa área com infra-estrutura já comprometida. 


Quando estiverem prontos, estima-se que a população da área deva aumentar aproximadamente 25%, ou seja, teremos mais 12 mil habitantes numa região sem perspectivas atuais de desenvolvimento da infra-estrutura urbana. 


E esses novos moradores devem interferir na dinâmica do município não somente na questão do saneamento básico, mas também do transporte. Mais moradores significa maior demanda por transporte público e mais veículos particulares nas ruas. Se o trânsito em Jaboatão já é complexo, especialistas acreditam que, caso não haja investimentos em novas vias nos próximos anos, além da ampliação do transporte público, a zona sul de Jaboatão terá graves problemas de locomoção.

Existe um projeto do Governo do Estado para interligar a Av. Bernardo Viera de Melo (principal da zona sul de Jaboatão), a BR 101 sul. A nova via seria pela Av. Sebastião, em Jardim Piedade, cortando os bairros de Cajueiro Seco através de um viaduto e, por fim, chegando ao terminal integrado de passageiros do bairro. A obra é complexa porque precisaria de toda uma reestruturação urbana do local, que é extremamente populoso e desorganizado urbanisticamente. Apesar de importante e essencial para o desenvolvimento da zona sul de Jaboatão, este projeto ainda não tem previsão para ser executado.


Outra solução seria investir numa paralela, margeando a Lagoa Olho D'água, até a ponte do Paiva. Esta marginal poderia se interligar a futura via mangue (do Recife), a ponte do Paiva e a BR 101 sul,  desafogando o trânsito nas Avenidas Bernardo Vieira de Melo, Ayrton Senna e Presidente Castelo Branco. Além disso,  construção de vias de acesso na Lagoa Olho D'água, melhoraria a condição de vida de mais de 50 mil pessoas que hoje vivem mas margens da lagoa sem nenhuma infra-estrutura.


Especialistas defendem ainda a ampliação da linha sul do metrô e a construção de terminais integrados de passageiros nos bairros de Candeias e Piedade. Ciclovias também seriam bem vindas. 

Como podemos perceber,  a zona sul de Jaboatão tem enorme potencial econômico, turístico e imobiliário. Cabe agora aos nossos governantes valorizarem esse potencial e desenvolverem as estratégias necessárias para que a região possa crescer de forma planejada e organizada, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos antigos e dos futuros moradores.

5 comentários:

R.R.Dias disse...

Hebert, seria bom você dizer no texto quem são esses "especialistas" que cita. Dizer nomes, mesmo.

Ricardo Lima disse...

Hebert,
de longe esse, ao meu entender, foi seu melhor texto. Bastante informativo e com possíveis soluções que poderiam ser adotadas pela administração pública e resolver problemas que se arrastam a décadas nessa área de Jaboatão. Torço muito para que porjetos como esse sejam implementados visto que serei um futuro morador dessa região.
Parabéns.

Herbert Fernandes disse...

Ricardo, obrigado. Tentei trazer o máximo de informações possíveis. Acredito que quem mora aqui ou será morador, terá a oportunidade de conhecer mais os desafios da região para o futuro próximo. Além disso o texto serve de alerta ao poder poder público. Espero que eles sigam as sugestões, pois todos nós torcemos para Jaboatão crescer e se tornar um lugar bom para se morar.

Herbert Fernandes disse...

Obrigado pela participação e observação R.R. dias. Com relação aos "especialistas", conversei com a arquiteta Bárbara Tenório. Ela desenvolveu um trabalho de conclusão sobre a Lagoa Olho D'água na área urbanística recentemente e eu tentei dar um panorama geral, resumido um pouco as ideias do trabalho dela. Ele fez uma pesquisa bastante relevante da área, tendo conversado e pesquisado bastante sobre o tema. Nesta conversa ela me passou o que os pesquisadores e pessoas da área achavam sobre essa questão da urbanização dessa região. Não deu para citar essas pessoas até porque ainda estou esperando Bárbara me entregar o trabalho escrito para eu ler. Mas tudo que sugeri no texto já vem sendo discutido aqui no blog há 3 anos, assim como pela opinião pública, mídia em geral e políticos. Assim que eu tiver acesso ao trabalho de Bárbara, vou disponibilizá-lo para download, para que tenhamos acesso a todas as fontes e a um texto mais completo.Mas eu entendi sua sugestão. No próximo artigo, na medida do possível, tentarei ser mais específico. Fiz algumas alterações no termos "especialistas" também. Abraço e obrigado.

SiRi-Neto disse...

Meu nome é José Ciríaco.
Eu sou morador da comunidade Novo Horizonte(suvaco da cobra) e tem uma equipe fazendo todo tipo de pesquisa por aqui, tanto social,econômica e topografica. Será que dessa vez essas pesquisas e projetos vão sair do papel? herbert esses 59 milhões já estão disponíveis? Vamos Cobrar para jaboatão melhora!